Relatório do Coaf enviado à CPMI do INSS mostra movimentações em espécie e transferências a familiares de dirigentes do Sindnapi
O Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical), entidade envolvida na Farra do INSS que tem o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT), como vice-presidente, movimentou R$ 1,2 bilhão entre janeiro de 2019 e junho de 2025, aponta relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A Força Sindical é do deputado Paulinho da Força, condenado a 10 anos de prisão, mas que Alexandre de Moraes anulou a decisão.
A informação consta em RIF (Relatório de Inteligência Financeira) enviado à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS, ao qual a coluna teve acesso. Desse total, R$ 586 milhões referem-se a créditos (entradas) e outros R$ 613 milhões, a débitos (saídas).
CPMI do INSS já tem requerimento para convocar Tonia Galleti, coordenadora jurídica do Sindnapi e amiga de Carlos Lupi.
No relatório, o Coaf chama a atenção para movimentações em espécie realizadas pelo Sindnapi. Nos últimos seis anos analisados, o sindicato fez operações de saques e depósitos que acumulam R$ 6,5 milhões. “Esse tipo de movimentação é considerado complexo, dada a dificuldade de rastreamento da origem primária dos recursos e da identificação dos beneficiários finais”, explica o órgão, no documento.
O Metrópoles fez contato com o Sindnapi, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.
O Relatório de Inteligência Financeira revela ainda que empresas de familiares de dirigentes do Sindnapi receberam R$ 8,2 milhões da entidade no período analisado. Os repasses foram feitos pelo sindicato a companhias que têm como donos parentes do atual presidente da entidade, Milton Baptista de Souza Filho, o Milton Cavalo; e o ex-presidente João Batista Inocentini, o João Feio, morto em agosto de 2023. Essa informação foi publicada pela coluna Andreza Matais, do Metrópoles.
O Sindnapi figura, ao lado da Contag (Confederação dos Trabalhadores da Agricultura), ligado à esquerda, entre as entidades que mais se beneficiaram dos descontos aplicados aos aposentados. Os valores repassados pelo INSS para o Sindnapi cresceram 564% em cinco anos. De 2020 a 2024, principalmente 2023 e 2024, o montante recebido pela entidade a partir dos descontos nos benefícios saiu de R$ 23,2 milhões para R$ 154,7 milhões, de acordo com dados do Portal da Transparência.
Segundo relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), o Sindnapi não conseguiu apresentar a documentação completa de nenhum associado dentro de uma amostra aleatória selecionada pelo órgão.
Ligado à Força Sindical, o Sindnapi é investigado pela PF (Polícia Federal) no escândalo da farra de descontos do INSS, revelado pelo Metrópoles.
O inquérito serviu de base para a Operação Sem Desconto, deflagrada no último dia 23 de abril e que culminou na demissão do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto e do ex-ministro Carlos Lupi. A operação começou pelo MP (Ministério Público de São Paulo).
A entidade tem autorização para descontos associativos há mais de 10 anos. Entre 2021 e 2023, auge da farra dos descontos, o número de cerca de 170 mil filiados saltou para 420 mil associados.
No mesmo período, segundo auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), o faturamento do sindicato foi de R$ 41 milhões para R$ 149 milhões.
O Sindnapi, porém, não foi incluído na investigação aberta pelo INSS, assumida pela CGU (Controladoria-Geral da União) e que motivou ação da AGU (Advocacia-Geral da União) contra entidades que já eram alvo da PF.
O INSS afirma que a ação mirou associações com indícios de pagamento de propina ou “tidas como fantasmas e que não tinham condições mínimas para sua existência”, o que não é o caso do Sindnapi.
