A CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou os resultados da Sondagem Indústria da Construção do 3º trimestre de 2025, confirmando que as altas taxas de juros continuam sendo o principal obstáculo ao crescimento do setor. Segundo o levantamento, 35% dos empresários apontam o crédito caro como a principal limitação para novos investimentos e expansão da atividade.
O estudo, realizado em parceria com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), também identificou que a carga tributária elevada é o segundo maior problema enfrentado pelo setor, mencionada por 32,2% dos entrevistados. A dificuldade em contratar mão de obra qualificada aparece em seguida, com 25,8% das citações, enquanto a falta ou alto custo da mão de obra não qualificada representa 24,5% das respostas.
Entraves estruturais e incerteza econômica ainda limitam expansão do setor
De acordo com Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, o conjunto de fatores negativos compõe um quadro ainda frágil, embora menos pessimista do que o observado em meses anteriores.
“Os índices permanecem baixos em comparação ao ritmo ideal de atividade, mas há um sinal de reversão parcial das expectativas”, destacou Azevedo.
Mesmo com sinais de recuperação, o ambiente de negócios ainda é considerado desfavorável, refletindo restrições de crédito, custos crescentes e incertezas macroeconômicas. Para a CNI, os próximos trimestres dependerão diretamente da política monetária e da trajetória da taxa Selic, que continua elevada, restringindo investimentos em infraestrutura e moradia.
Indicadores de atividade e emprego mostram reação moderada
O índice de evolução do nível de atividade subiu para 48,4 pontos em setembro, superando a média histórica do mês, mas ainda abaixo do resultado registrado em 2024.
“O setor apresentou resultados negativos ao longo dos últimos meses. Agora, observa-se uma leve recuperação, com aumento no nível de atividade, utilização da capacidade operacional e número de empregados”, explicou Azevedo.
O índice de emprego atingiu 47,1 pontos, menor nível para setembro nos últimos sete anos, ainda que com melhora frente a agosto. Já a Utilização da Capacidade Operacional (UCO) subiu dois pontos, alcançando 68%. Apesar disso, o setor segue operando com ociosidade elevada e margens de lucro comprimidas.
Custo dos insumos continua pressionando lucros e investimentos
O levantamento aponta que o índice de facilidade de acesso ao crédito aumentou para 38,6 pontos, mantendo o cenário de restrição. Para os empresários, o encarecimento dos recursos financeiros limita tanto o giro quanto o investimento em novos projetos.
Outro fator de preocupação é o aumento no preço de insumos e matérias-primas, cujo índice avançou para 61,6 pontos. O dado indica aceleração no ritmo de alta dos custos, o que impacta diretamente a competitividade e a capacidade de planejamento das empresas do setor.
Confiança do empresário melhora, mas ainda não rompe barreira da cautela
O ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial) da construção civil apresentou alta de 1,4 ponto, chegando a 48,4 pontos, segunda elevação consecutiva. Apesar do avanço, o indicador permanece abaixo da linha de 50 pontos, o que caracteriza predomínio do pessimismo.
O subíndice de expectativas para os próximos meses ultrapassou os 50 pontos, chegando a 50,7, sinalizando otimismo moderado. Já o índice de condições atuais avançou para 43,8 pontos, impulsionado por avaliações menos negativas sobre o momento presente das empresas.
Expectativas para o último trimestre de 2025 indicam leve recuperação
Entre setembro e outubro, a maioria dos indicadores de expectativa apresentou crescimento. O índice de expectativa de nível de atividade subiu 1,7 ponto, chegando a 52,4 pontos, enquanto o de compras de matérias-primas avançou para 50,9 pontos.
O índice de novos empreendimentos e serviços também registrou melhora, passando de 49,2 para 50,3 pontos, e a intenção de investimentos subiu 2,5 pontos, alcançando 43,6 pontos, após três trimestres de queda.
A CNI ressalta que a retomada ainda depende de uma redução sustentável das taxas de juros, fator que continua a determinar o ritmo da recuperação econômica no setor da construção.
Crédito caro, confiança contida e desafio de retomada
A persistência das taxas de juros elevadas consolida-se como o maior obstáculo estrutural ao avanço da construção civil no Brasil. Mesmo diante de uma leve melhora nos indicadores de confiança e atividade, o cenário macroeconômico ainda restringe investimentos e geração de empregos. O crédito permanece inacessível para pequenas e médias construtoras, e a alta de custos reforça a fragilidade de um setor dependente do financiamento de longo prazo.
Enquanto o governo federal busca acelerar programas habitacionais e obras de infraestrutura, a inércia na política monetária e a pressão tributária continuam comprometendo o potencial de crescimento de um dos segmentos mais relevantes da economia nacional.
Principais dados
Crédito e Taxa de Juros
35% dos empresários da construção civil apontam as taxas de juros elevadas como o principal obstáculo ao crescimento do setor.
Índice de facilidade de acesso ao crédito: 38,6 pontos, ainda em patamar restritivo.
Crédito caro e falta de recursos acessíveis limitam tanto a atividade quanto o investimento em novos projetos.
Carga Tributária e Custos
Carga tributária elevada: citada por 32,2% dos entrevistados, alta de 1,7 ponto percentual no trimestre.
Aumento acumulado nos últimos três trimestres: +5,6 pontos percentuais.
Índice de evolução do preço de insumos e matérias-primas: 61,6 pontos, indicando aceleração na alta de custos.
O encarecimento dos materiais reduz margens de lucro e competitividade.
Mão de Obra e Emprego
Falta ou alto custo da mão de obra qualificada: 25,8% das citações.
Falta ou alto custo da mão de obra sem qualificação: 24,5%.
Índice de emprego: 47,1 pontos, menor nível para setembro em sete anos, apesar de leve alta mensal.
Utilização da Capacidade Operacional (UCO): 68%, aumento de 2 pontos percentuais em relação a agosto de 2025.
Atividade Econômica e Desempenho do Setor
Índice de evolução do nível de atividade: 48,4 pontos em setembro.
Supera a média histórica, mas permanece abaixo do mesmo mês de 2024.
Resultados mostram melhora parcial, ainda em níveis historicamente baixos.
Indicação de retomada moderada após desempenho negativo em agosto.
Confiança e Expectativas
Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI): 48,4 pontos, alta de 1,4 ponto.
Subíndice de expectativas futuras: 50,7 pontos — cruzando a linha de otimismo.
Índice de condições atuais: 43,8 pontos, avanço de 0,6 ponto.
Índice de expectativa de nível de atividade: 52,4 pontos (+1,7 ponto).
Índice de expectativa de compras de matérias-primas: 50,9 pontos.
Índice de novos empreendimentos e serviços: 50,3 pontos (+1,1 ponto).
Índice de intenção de investimentos: 43,6 pontos, segunda alta consecutiva.
Panorama Geral
Setor apresenta sinais de recuperação moderada, mas ainda enfrenta:
Taxas de juros elevadas,
Crédito restrito,
Carga tributária crescente,
Custos de insumos em alta.
Retomada depende de cortes mais expressivos na Selic e de melhoras estruturais no ambiente de negócios.
Fonte: CNI
