Apesar do aumento do número de armas, país teve reduziu de mortes violentas de 65 mil em 2014 para 45 mil em 2020
As restrições impostas para o acesso a armamento e munições no Brasil após o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), trouxeram impactos aos praticantes de tiro esportivo. A modalidade foi a primeira a garantir ao País uma medalha de ouro na história dos Jogos Olímpicos, mas para os atletas e entidades representativas, a nova regulamentação demonstra preconceito e falta de reconhecimento com o esporte.
O Brasil estreou a participação em Olimpíada na edição da Antuérpia, em 1920. Naquele ano, a delegação ganhou três medalhas – uma de ouro, uma de prata e outra de bronze -, todas elas no tiro esportivo.
Logo que assumiu o mandato, Lula revogou total ou parcialmente sete decretos do governo Jair Bolsonaro (PL) e baixou novas diretrizes gerais sobre a política de acesso a armas e munições. As principais entidades representativas do tiro esportivo, no entanto, apontam que a medida causou prejuízos ao esporte.
“Somos favoráveis à regulamentação, desde que não haja prejuízo ao esporte“, afirma o presidente da CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo), Jodson Edington, ao destacar que está mais difícil a participação dos atletas em treinamento e competições, o que pode diminuir o rendimento e nível técnico deles para disputas olímpicas.
Conforme explica Jodson, a suspensão da emissão de novos CR (Certificados de Registro) prejudica o início no esporte por novos atletas. Já sobre os atletas já praticantes, a nova regulamentação reduziu de 5.000 para 600 o número de munições que podem ser adquiridas por ano, mas há modalidades em que essa quantidade é utilizada em apenas uma única etapa.
“Houve também uma redução drástica na quantidade mensal de munições que possam ser repassadas para os atletas pelos clubes (50 unidades), para utilização exclusiva nas etapas, uma vez que a quantidade necessária não pode ser transportada de avião. E o deslocamento por carro na maioria das vezes é impossível em razão da distância”, acrescentou.
Além disso, outras duas mudanças que impactaram diretamente os atiradores esportivos: a proibição da aquisição de insumos para recarga de munições; e a proibição de armas com calibre restrito, necessárias para algumas modalidades.
“Os atletas olímpicos são de altíssimo rendimento, motivo pelo qual seu treinamento é constante e intenso, precisando, portanto, de munições em quantidade compatível com o treinamento e participação nas competições. Neste ano estarão ocorrendo as provas seletivas para as equipes olímpicas, bem como a disputa das vagas para os Jogos Olímpicos. Os atletas estão com seu treinamento prejudicado, o que reflete negativamente nas chances de conquistas de vagas“, destacou.
Impacto na geração de empregos
“O esporte de tiro envolve toda uma cadeia socioeconômica. Com a impossibilidade de frequência dos atletas nos clubes, pela pouca quantidade de munição, os mesmos ficam diretamente afetados no seu faturamento, havendo a possibilidade de terem que reduzir seus quadros de colaboradores ou até mesmo encerrarem suas atividades“, disse Jodson Edington.
O presidente da CBTE ainda afirma que essa situação se estende às lojas, que tiveram uma redução abrupta de faturamento, o que pode causar uma onda de desemprego e até o fechamento de alguns desses estabelecimentos.
“Afeta também os trabalhos autônomos dos despachantes, treinadores, técnicos, armeiros, instrutores. Além da iminente onda de desemprego no setor, o qual vinha em constante crescimento, certamente não haverá novas vagas, caso se mantenha como está. É necessário que as entidades desportivas formais sejam ouvidas para que apresentem as suas especificidades“, afirmou.
Serviço de blindagem afetado
A revogação dos decretos que regulamentavam a venda e a autorização para a posse e o porte de armas também travou o serviço de blindagem de automóveis no país, já que foram derrubadas também regras que regulamentavam o serviço. A blindagem é uma alternativa da segurança, pois consiste em uma proteção estrutural que visa proteger os ocupantes contra tiros e explosões contra o veículo.
Quem pode ter armas
Podem solicitar a posse e porte de armas pessoas que trabalham em atividades que colocam a vida em risco, como advogados, representantes comerciais, proprietários rurais que moram nas áreas.
O crescimento do número de acessos a armas teria tido efeito contrário em relação a mortes violentas no país.
De 2008 a 2015 houve um crescimento substancial no número de assassinatos e partir de 2017 redução de quase um terço passando de 65 mil para 45 mil.